ADORMECER

Adormecer a amorinha era um momento de mimo
Meu e dela
Talvez mais meu que dela.
Adormecia ao meu colo
Depois de mamar
Inicialmente sentada no meu joelho
Inclinada/apoiada no meu braço
Palmadinhas nas costas para arrotar
E ela adormecia
Depois no meu ombro
Num abraço que me enchia o coração
Sempre foi assim
Com o aproximar do seu primeiro aniversário
Com o seu crescimento
A posição deixou de ser cómoda
Para mim
Para ela.
Estava a chegar a hora
Dela aprender a adormecer sozinha
Com o mano foi muito complicado
Muito choro, muita birra
Muita falta de paciência minha
Que por fim já chorava com ele
Desesperava ele porque não dormia
Desesperava eu porque ele não dormia
Uma mudança que ocorreu por volta dos 9 meses dele
Por volta dos 11 meses dela
Mais tarde porque me andei a mentalizar para o que se ia passar
Porque não queria que tudo se repetisse
Porque me custa muito ouvi-los chorar
Porque se ela chorasse o mano também não dormia
Porque eu não estava preparada para abdicar deste mimo
De ter a minha bebé crescida
Mas a amorinha surpreendeu-me
Fizemos todo o ritual como antigamente
Mas em vez de esperar que ela adormecesse no meu ombro
Coloquei-a na cama
Já estava meio adormecida
Ficou muito surpreendida
Abriu muito os seus grandes olhos inquisidores
Falei-lhe calmamente
Expliquei-lhe que já estava a ficar uma menina grande
Que precisava de começar a adormecer sozinha
Na caminha dela
Que a mama gosta muito dela na mesma
Mas que ela é pesada
E a mama não pode com ela
E que ela já não está confortável a colo da mama
Falei-lhe calmamente
Sentei-me no chão ao lado da cama dela
E fui-lhe fazendo festinhas nas costas ou na cabeça.
Nos primeiros dias demorou muito a adormecer
Alguns dias tive de a tirar da cama porque chorava muito
Porque ficava de pé e gritava
Acalmava-a e voltava ao inicio
Muita, muita paciência e muita calma
Sem pressas
Ao fim de uma semana as coisas estavam melhores
As sestas começaram a melhorar consideravelmente
Depois de mamar coloco-a na Cama
Dou-lhe um beijinho e digo com voz calma e meiga: “Faz ó-ó! A mamã vai trabalhar”
Fica sozinha a chuchar o bordo da fraldinha de pano, tal como fazia o mano
Um novo vício, uma forma de conforto, que larga ainda antes de adormecer
Não chora, fica às voltas até adormecer.
À noite é mais exigente
Fica na cama dela mas exige a minha presença
Exige as festinhas, que o mano também adorava
E adormece sem birras, sem choro
Na caminha dela.